Abordagens contemporâneas para leituras críticas de práticas artísticas e midiáticas

O livro concentra-se na elaboração da abordagem das extremidades, considerando os procedimentos de desconstrução, contaminação e compartilhamento.
Essas questões são desenvolvidas em dois ensaios de Christine: “Extremidades: experimentos críticos” e “Experiências das extremidades”. Procura-se refletir, questionar e mapear como esses experimentos críticos possibilitam análises de linguagens e objetos “regidos pela diferença e diversidade”, de acordo com a autora. Com esse objetivo, o livro engloba mais seis artigos, resultado do trabalho do Grupo de Estudos Extremidades: redes audiovisuais, cinema, performance e arte contemporânea.
Além do ensaio de Christine Mello sobre os procedimentos criativos do artista Lucas Bambozzi, outros dois textos analisam proposições artísticas. Alessandra Bochio e Felipe Merker Castellani propõem reflexões sobre a instalação “Paisagens fluidas” (desenvolvida pelos mesmos autores), considerando a participação do público e a intervenção na paisagem urbana atravessados pela noção de dispositivo. Juliana Garzillo analisa o trabalho de Brian Eno, “77 Million Paintings”, que já foi materializado como software, DVD, instalação audiovisual e intervenção urbana.

Christine Mello é doutora, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professora na instituição. Além de organizar Extremidades: experimentos críticos (2017) é autora de Extremidades do vídeo (2008) e coautora de Tékhne (MAB, 2010).
Os outros três artigos do livro concentram suas leituras em objetos da área do cinema e do documentário contemporâneos. Cyntia Gomes Calhado analisa o filme “Abril despedaçado”, de Walter Salles, refletindo sobre como o efeito vídeo cria “zonas fronteiriças entre as plasticidades da imagem e da narrativa”. Felipe Ferreira Neves parte de “Rua de mão dupla”, de Cao Guimarães, para observar a “potência do dispositivo como criador de experiências e como um sistema de escritura […]” . Lucas Lespier relata os processos de criação de “O muro da vergonha”, um documentário sem elaboração de roteiro prévio, de autoria coletiva, em que os realizadores são parte do grupo retratado, e que enfatiza o registro como militância e a poética do encontro.
Para saber mais sobre a abordagem das extremidades, conversamos com Christine Mello:
Ananda Carvalho:
Você usou a noção de extremidades inicialmente na sua pesquisa de doutorado que foi publicada no livro “Extremidades do vídeo”, em 2008. Ali, os procedimentos de desconstrução, contaminação e compartilhamento foram articulados para discutir a linguagem videográfica. Agora, a noção de extremidades é ampliada e redimensionada como um “instrumental de leitura” de diversas linguagens. O que você poderia relatar sobre o processo de pesquisa que resultou no livro que está lançando agora?
Christine Mello: Eu observo que muitas pesquisas acadêmicas são atravessadas por estágios conservadores: questões de conservação da forma e situações estabilizantes das linguagens artísticas e midiáticas. Essa inquietação demandou encontrar os lugares em que a forma é instável.
Esta pesquisa que estou desenvolvendo vem do desejo de criar uma aproximação com objetos que desestabilizam as linguagens. Se o vídeo ou os meios eletrônicos são disruptivos para a forma, a questão que ecoa agora é como gerar situações e correlações com o que estamos chamando de objetos das extremidades. Trata-se do desdobramento de uma pesquisa em outra.
